No Rio: exposição traz fotos raras e acessibilidade a visitantes com deficiência visual

Depois de levar cerca de 70 mil pessoas ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e mais de 24 mil pessoas à Baixada Santista (Parque Novo Anilinas), o raro acervo do fotógrafo amador Alberto de Sampaio estará em exibição na mostra Lentes da memória: a descoberta da fotografia de Alberto de Sampaio pela primeira vez na capital fluminense, no Centro Cultural Correios (Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro), até 4 de dezembro. São imagens com mais de 100 anos.

Alberto no Toillete | Legenda original | Negativo de vidro, 12 cm x 16,5 cm | 30 de março de 1906.
Alberto no Toillete | Legenda original | Negativo de vidro, 12 cm x 16,5 cm | 30 de março de 1906.

A exposição foi cuidadosamente preparada para encantar o maior número possível de visitantes, incluindo os que têm deficiência visual total ou parcial. Uma série de recursos e ações foi planejada para possibilitar o acesso de pessoas com deficiência visual a registros dos primórdios da urbanização do Rio de Janeiro, capturados pela câmera de Sampaio no início do século passado. Canetas pentops, que funcionam como audioguias, contendo arquivos de áudio com a descrição dos ambientes da exposição e de parte significativa do acervo de fotos, estarão disponíveis para o público durante todo o período da mostra.

Fotografia tátil | por meio de impressão em 3D, a exposição permite que pessoas com deficiência visual (total ou parcial) acompanhem a trajetória de Alberto de Sampaio e compreendam seus registros com auxílio de audiodescrição.
Fotografia tátil | por meio de impressão em 3D, a exposição permite que pessoas com deficiência visual (total ou parcial) acompanhem a trajetória de Alberto de Sampaio e compreendam seus registros com auxílio de audiodescrição.

Também foram preparadas maquetes táteis do espaço da exposição e de objetos que estarão em exibição, como a máquina fotográfica mais usada por Alberto de Sampaio, além de fotografias táteis (com relevo), que poderão ser tocadas.

https://vimeo.com/184865565

As fotografias que compõem o acervo audiodescrito também contarão com QR Codes, para que o público, com ou sem deficiência visual, possa acessar a descrição por meio do celular. Além dos recursos táteis e sonoros, profissionais capacitados para descrever ao vivo as imagens estarão a postos nas quintas, sextas e sábados para receber grupos previamente agendados e acompanhar o público espontâneo de visitantes com deficiência visual.

Rua dos Ouvires, esquina com Avenida Central | Legenda atribuída | Trata-se da atual Rua Miguel Couto, esquina com a Avenida Rio Branco | Cópia em papel 8 cm x 10,5 cm | 23 de julho de 1906.
Rua dos Ouvires, esquina com Avenida Central | Legenda atribuída | Trata-se da atual Rua Miguel Couto, esquina com a Avenida Rio Branco | Cópia em papel 8 cm x 10,5 cm | 23 de julho de 1906.

Foi estudando meticulosamente os elementos e a iluminação de cada ambiente, que o advogado Alberto de Sampaio (1870-1931) começou a fazer cliques certeiros da própria vida familiar e de cenas urbanas de sua cidade, o Rio de Janeiro do início do século XX.

Pique-nique na Gávea | Legenda original | Alberto de Sampaio aparece à direita, com cigarro na boca | Negativo de vidro, 12 cm x 17 cm.
Pique-nique na Gávea | Legenda original | Alberto de Sampaio aparece à direita, com cigarro na boca | Negativo de vidro, 12 cm x 17 cm.

O trabalho de Alberto de Sampaio foi descoberto pela arquiteta e historiadora Adriana Martins Pereira, curadora da exposição. Em 1999, na Sociedade Petropolitana de Fotografia (Sopef), na cidade de Petrópolis (RJ), ela se deparou com o grande volume de negativos e materiais de laboratório desse ilustre, e até então desconhecido, fotógrafo amador que havia sido doado para a instituição nos anos 1980. Ao pesquisar sobre Sampaio, Adriana teve contato com um acervo ainda maior de imagens, objetos e histórias tão ricas, que lhe renderam um mestrado e um doutorado sobre o tema. O trabalho de Alberto de Sampaio, então, se tornou o mote para que a pesquisadora explorasse diversos aspectos da história do Brasil e da história da fotografia amadora, muito estudada na Europa mas pouco investigada e divulgada por aqui.

Capa do livro Lentes da memória – A descoberta da fotografia de Alberto de Sampaio (1888-1930)”, da Editora Bazar do Tempo, e autoria da historiadora Adriana Martins Pereira

Capa do livro Lentes da memória – A descoberta da fotografia de Alberto de Sampaio (1888-1930)”, da Editora Bazar do Tempo, e autoria da historiadora Adriana Martins Pereira

A mostra Lentes da memória: a descoberta da fotografia de Alberto de Sampaio exibe objetos pessoais, materiais de laboratório, filmes em 16mm e cerca de 130 imagens da vida doméstica do fotógrafo e de cenas marcantes do processo de urbanização do Rio de Janeiro.

Fotografia de Marc Ferrez, da casa em que Alberto de Sampaio nasceu | Rua do Bispo, em Rio Comprido, RJ | cerca de 1873 | Na imagem, Alberto, seu pai (Bento) e uma babá aparecem no jardim. | Na janela está a mãe de Alberto, Luiza.
Fotografia de Marc Ferrez, da casa em que Alberto de Sampaio nasceu | Rua do Bispo, em Rio Comprido, RJ | cerca de 1873 | Na imagem, Alberto, seu pai (Bento) e uma babá aparecem no jardim. | Na janela está a mãe de Alberto, Luiza.

Artigos relacionados