Exposição relembra as “mães pretas”, amas-de-leite negras e escravas do século 19

A escravidão no Brasil chegou a níveis tão esdrúxulos que até mesmo um ato simples como amamentar era de obrigação das escravas negras, que alimentavam os filhos daquelas senhoras brancas que às escravizavam. As conhecidas imagens das amas-de-leite negras, registradas desde meados do século XIX ao início do século XX, são o ponto de partida da pesquisa das artistas Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa para a exposição Mãe Preta, com a curadoria de Marco Antonio Teobaldo, na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, do Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos (IPN), na Gamboa (R. Pedro Ernesto, 32/34, Gamboa, Rio de Janeiro/RJ). A mostra vai até 25 de setembro.

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“A exposição é uma reinvenção poética da iconografia relacionada às mães pretas dentro de uma linguagem contemporânea, tendo como ponto de partida imagens do acervo do Instituto Moreira Salles e releituras de livros com gravuras de Jean-Baptiste Debret, Johan Moritz Rugendas e outros artistas”, diz Patricia Gouvêa.

“Por meio de intervenções nessas imagens com objetos óticos, como lupas e vidros, destacamos  a complexidade das relações das amas-de-leite com as crianças brancas de seus senhores, e das mulheres escravizadas e seus próprios filhos. De tão conhecidas, estas imagens são vistas de forma superficial e não revelam as histórias de violência sofridas por estas mulheres”, explica sobre as técnicas utilizadas.

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A mostra, que também faz parte da programação oficial do FotoRio 2016, busca traçar os elos e ressonâncias entre a condição social da maternidade durante a escravidão e as vozes de mulheres e mães negras na contemporaneidade. A exposição reúne obras em fotografia, gravuras, vídeo e instalações criadas especialmente para o IPN, onde está localizado o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, no qual milhares de africanos escravizados recém-chegados ao país foram enterrados à flor da terra, na primeira metade do século XIX.

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“A história da escravidão no Brasil sofreu um processo de apagamento sistemático, com destruição de documentos, remoção de comunidades e obras de infraestrutura nos principais pontos de concentração da cultura afrobrasileira”, comenta o curador Marco Antonio Teobaldo. A exposição Mãe Preta integra o Circuito Cultural Rio, idealizado pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio, para a programação cultural dos períodos Olímpico e Paraolímpico, que vai de maio a setembro de 2016.

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