Flash na mão, dúvida na cabeça

Já foi dito aqui, e muitos profissionais confirmam: usar o flash portátil abre um mundo de possibilidades criativas. O custo-benefício dessa solução é inegável e os resultados – que é o que importa – nada devem a nenhum aparato de estúdio, garantem esses mesmos defensores do flash dedicado. Mesmo assim, há quem ainda duvide. Ou, então, tenha “medo”. Esta última hipótese é aventada pelo espanhol Jose Antonio Fernández, premiado fotógrafo de natureza e autor de um livro sobre o assunto, que acaba de ganhar uma versão em português pela editora iPhoto.

Sem medo do flash (260 págs., R$ 89,90) trata do uso do flash portátil desde os ajustes básicos até aplicações mais avançadas. O livro parte da experiência que o fotógrafo adquiriu ministrando cursos em sua escola de fotografia, a Aula Imagenat. “Os alunos perguntavam sobre bibliografia relacionada a essa matéria, o que me fez pensar: ‘Por que não reunir todas essas inquietudes em um livro?’ A ideia foi levada a uma editora espanhola, que confiou na minha proposta e, depois de um ano de trabalho, o livro foi colocado à venda, com muito bons resultados: em poucos meses, alcançou a terceira edição”, destaca “Hoselito”, que é como o autor é conhecido.

Segundo o espanhol, que soma sete prêmios Lux, da Associação de Fotógrafos Profissionais da Espanha (AFP), e mais um punhado de outros de diferentes países, a provocação embutida no título do livro diz respeito ao desconhecimento que ele verifica entre usuários desse acessório. Como as pessoas não têm familiaridade com o flash, obtém maus resultados. Com isso, tornam-se refratários ao equipamento.

“A matéria-prima dos fotógrafos é a luz. Portanto, um primeiro e lógico passo é conhecê-la”, sustenta o profissional, que respondeu algumas perguntas do Photo Channel a respeito do tema do seu livro. Acompanhe:

É um mito ou é verdade que o flash portátil apresenta limitações em comparação com os equipamentos de estúdio? Hoje, eu não entendo ou não vejo como diferentes os equipamentos portáteis e de estúdio. Eu acho que eles se complementam e, em muitos casos, os uso combinados. Os flashes de estúdio tendem a ficar cada vez mais portáteis e os portáteis se tornam cada vez mais potentes e adaptáveis a situações que antes só poderiam ser resolvidas com equipamentos de estúdio.

Quais são as maiores dificuldades para se obter bons resultados com o flash portátil? A primeira razão é a falta de luz. Um capítulo inteiro é dedicado a resolver esse problema no livro. A segunda é a falta de habilidade de manipulação do equipamento. A maioria dos fotógrafos não lê o manual de instruções da sua unidade de flash, em parte por causa da linguagem pouco amigável utilizada pelos fabricantes. No livro você encontrará exemplos de uso com diferentes marcas e modelos de flash numa linguagem compreensível. Acredito também que, nesse universo de ações rápidas em que vivemos, muitos fotógrafos não param para pensar um pouco antes de fotografar e analisar as fontes de luz que têm à sua disposição, como a luz ambiente, paredes e tetos onde rebater a luz etc. Talvez a pior barreira seja essa falta de reflexão.

Como você avalia a contribuição da sua obra para o crescente mercado profissional? Em cada um dos cursos que ministro, apenas 30% são profissionais, gente que vive da fotografia. Fotógrafos de casamento usam flash portátil em quase todas as suas fotografias, outros profissionais não têm espaço para ter um set, mas eles podem comprar equipamentos e acessórios portáteis para trazer iluminação para o cenário que eles querem e vão precisar de conhecimentos precisos para aproveitar esses equipamentos ao máximo. Muitos colegas de profissão me enviaram as suas impressões e todos concordam que, até agora, não havia nada no mercado editorial que atendesse às suas necessidades e respondesse às perguntas mais frequentes tão bem. Claro, o livro é destinado a qualquer pessoa que queira conhecer o flash e as possibilidades que ele oferece, independente se é profissional ou amador.

E como você descreve o livro? Que aspectos você destaca desse trabalho? O conteúdo é muito completo, uma vez que lida com tudo relacionado ao flash (desempenho, manuseio, ajustes, acessórios etc.). As explicações são baseadas na experiência de ensino e nas muitas perguntas de estudantes que fizeram os cursos que ministro. A linguagem é simples, é um livro fácil de ler. Há muitas fotografias, 95% foram feitas exclusivamente para a elaboração do livro e muitas delas mostram a colocação das luzes. Há muitos gráficos e esquemas de iluminação que dão suporte aos textos e fotos. Os flashes e acessórios utilizados e explicados no livro são a última geração de diversas marcas, há um capítulo inteiro que explica os diferentes métodos para se usar o flash fora da câmera, inclusive em função da marca que você trabalha. A estrutura é bem concebida, os capítulos são unidades didáticas, como se se tratasse de um curso de fotografia dividido em partes. Esses capítulos começam com uma seção que, com frases muito específicas, descreve “o que é que você vai aprender”. Finalmente, a última parte do livro corresponde a estudos de caso explicados passo a passo. O livro foi o resultado de um esforço de equipe e foi concebido com um interesse muito claro: que o leitor aprenda e aprecie o processo. Talvez eu esteja equivocado ao dizer isso, mas creio que seja um grande livro, cuja leitura é verdadeiramente útil. Os benefícios são claros: o fotógrafo terá a chave para a liberdade de usar a luz. A técnica é uma ferramenta que, uma vez assimilada, nos torna livres e criativos. Não há apenas uma opção quando se trata de resolver uma foto com flash; a escolha já não dependerá de nosso conhecimento, mas da nossa criatividade.

(*) Colaborou German Toldo