Correria de SP inspira ensaio

No início do e-mail, Ivan Berger foi logo se desculpando pela demora em responder às perguntas enviadas pela reportagem: “Correria de São Paulo”, justificou o paulistano, 46, às voltas com jobs para três diferentes agências. Não se trata de uma situação atípica, mas o reflexo da rotina da maioria dos fotógrafos de publicidade, que vivem pressionados pelos prazos exíguos oferecidos por seus empregadores, estes mesmos em lida com as exigências de sua própria agenda. Somem-se a isso as dificuldades impostas pela realidade de caos de uma cidade como São Paulo, com seu trânsito infernal e seu ritmo frenético, e temos uma boa ideia dos problemas que esse pessoal enfrenta. Motivos para se queixar? Ivan, pelo menos, acha que não. Mas ele aproveitou o contexto em sua primeira exposição fotográfica, Super-heróis urbanos, em cartaz na Fnac Pinheiros até 19 de abril.

“Amo meu trabalho, a falta de rotina, as superações, os resultados, pessoas interessantes e bonitas e, além de tudo isso, ainda ganho bem”, afirma Ivan, que é publicitário e começou a fotografar profissionalmente em 2006. Sua relação com a fotografia, contudo, vem de bem antes: “Fui modelo e fazia alguns books para as modelos, mas acima de tudo era amante da fotografia analógica, tinha equipamentos manuais e usava pouca luz, basicamente fotografava com luz natural rebatida”, conta.

Fotos mostram dificuldades típicas de quem vive a correria das grandes cidades, como a falta de tempo para ir ao supermercado
Ivan e Débora: apoio da esposa foi decisivo na escolha da carreira (foto: Vitor Dechen)

Ivan passou a considerar a fotografia mais seriamente por influência da namorada Débora Bermudes (hoje esposa), que também era modelo e tinha no book muitas fotos feitas por ele. Débora o encorajou a montar um estúdio e a viver somente disso. “Voltei então a ser modelo para ver como se comportava o mercado digital. Quando pegava algum trabalho como modelo, me oferecia como voluntário para ajudar a montar a luz ou carregar o equipamento, para aprender um pouco da rotina de um estúdio, já que eu nunca fui assistente de outro fotógrafo e aprendi tudo na prática”.

Seu início se deu bem no período da transição: “Muitos fotógrafos não acreditavam nessa mudança e muito menos que o cromo seria substituído por um arquivo digital, e esses que foram contra saíram do mercado, pois ficaram obsoletos”, lembra. Para ele, as coisas eram mais fáceis antes: a pós-produção ficava nas mãos do laboratorista, não havia os custos envolvendo computadores e softwares e nem com o seu manuseio, e as câmeras duravam infinitamente mais. “Comecei com uma Canon 10D, de 6 megapixels, e hoje trabalho com uma Hasselblad H4X com back Phase One P65 de 60MP. A evolução não para nunca e você tem que acompanhar estudando muito”.

Berger não faz apenas publicidade, mas também moda e editorial. “Publicidade é sem dúvida o mais bem remunerado, também o mais exigente, pois o mercado é bastante concorrido e cheio de cobranças”, compara, acrescentando que os editoriais de moda e as capas de revista pagam pouco, mas compensam pela exposição que dão ao nome do fotógrafo. “Moda é o mais bacana de se fazer, pois é mais suave, existem as cobranças, mas o layout serve para marcar o conceito da campanha e não precisa seguir fielmente. Muitas vezes, a moda serve como um laboratório para novas luzes e ideias”.

E foi com esse espírito livre que Ivan Berger idealizou sua primeira exposição, Super-heróis urbanos. “Sou parceiro de alguns diretores de arte para premiações como Cannes e Luzers Archive, e todos os anos produzo fotos com essa finalidade. É bom, mas os méritos ficam com a agência, diretor de criação e diretores de arte. Senti a necessidade de fazer algo com minha ideia e direção, algo com meu nome, que mostrasse uma luz publicitária difícil de fazer”. Ele explica que visitou algumas exposições e constatou que não havia trabalhos com modelos focados num único tema. Decidiu que a sua falaria sobre essa correria da vida nas grandes cidades.

“Me inspirei na vida dos publicitários, que trabalham noite adentro e misturam suas vidas particulares com a profissional: na hora do almoço fazem academia, compras, entre outras atividades, reuniões são marcadas à noite, imagens são pedidas para que eu envie durante a madrugada. Fala da falta de tempo, diversidade cultural, avanço tecnológico, coexistência de gerações e obstáculos de uma metrópole, mas sempre mostrando a superação nas diversas situações dessas pessoas bem-sucedidas”.

O ensaio levou uns três anos para ser concluído. Um detalhe: ele procurou fazer tudo mais ou menos como no tempo do filme, com poucos cliques e sem fusões, pós-produção apenas para ajustar as imagens. “Fiz como old school, na unha mesmo”. Veja no vídeo abaixo o making-of do ensaio:

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Um Comentário

  1. Caríssimos Ivan’s ( pai e filho ) adorei a apresentação dos trabalhos, dignos de uma exposição permanente.

    Abs

    Zanni