Tudo que vemos está em constante mudança

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Tudo com o que nos ocupamos em fotografia, tudo o que vemos, está em constante mudança, pois o que nos aflora aos olhos, ao passar do tempo, torna-se passado na memória.

Cabe ao fotógrafo, como homem de seu tempo e de sua história, registrar sua aldeia, no esforço de incluí-la no inventário fotográfico da humanidade.

Nesse inventário circulam as imagens do mundo e do espaço. Tudo o que sonhamos conhecer nos foi seduzido por esse enorme arquivo de imagens. Todos os dias, em nosso cotidiano, vemos fotos em todos os lugares, e sempre há uma que nos fará parar e nos fará sonhar em conhecer aquele lugar.

É esse inventário que nos faz saber da existência de pessoas e lugares ao redor do mundo; é um grande trânsito de imagens que circulam; são janelas que se abrem para o mundo…

Cavaleiro no Poente

Assim como o poeta e seu encontro com a palavra, ou o ator com a interpretação ideal de um texto, ou o escultor que mede a força e a suavidade do cinzel, o fotógrafo escreve com a luz, procurando (quando encontra) no alheio os sentimentos de lhe são próprios d’alma.

Com uma máquina em punho e o universo pessoal a traduzir, a busca pela imagem ideal está interligada à busca do homem pela essência primordial.

Na expressão do artista em sua interpretação da realidade, busca-se, nesse trabalho, dentro da realidade cotidiana e universal, a tradução do mundo pela escrita da luz. A emoção aliada à sensibilidade de cada circunstância, a individualidade e a exclusividade que cada momento propicia, a frustração e a alegria das pessoas, o cotidiano, o banal do dia a dia, a rotina dos seres, o cão que pula todos os dias nas pernas do dono, são sempre momentos únicos, mesmo que rotineiros. Os detalhes se traduzem pela palavra observação e pela máquina fotográfica.

Pois o fotógrafo é o voyeur das emoções humanas.

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O mundo fala pelas pessoas, e nós podemos falar para o mundo como a vida pode ser bela e expressiva. Basta a crença nas capacidades, e a força que o risco transmite ao coração.

Fotografia e reflexão, imagens e observação, o mundo à nossa volta… Não há melhor nem pior. Somente luz e sombra.

Na plenitude do ser, a reflexão.

No ano de 2006, sob o patrocínio da Prefeitura Municipal de Lages, por intermédio de sua fundação cultural, foi apresentada uma coleção de imagens dos campos e coxilhas lageanas, local até então desconhecido da grande maioria do povo dessa terra.

Como consequência, uma exposição fotográfica foi montada dentro do Pavilhão Cultural durante a 18ª Festa Nacional do Pinhão e como cenário dessa exposição foram reproduzidas as taipas e as coxilhas típicas da região. Foram feitas vinte fotografias em grande formato para serem expostas, e o resultado dessa iniciativa foi a aceitação e aprovação dos lageanos e turistas que lá estiveram. Esse fato resultou em desdobramentos de valorização da região, bem como um interesse geral em conhecer tão bela localidade.

Hoje, essa coleção pertence ao patrimônio público municipal de Lages, e tem a função de apresentar nossa terra.

Aura do Pinheiro

Depois, como consequência da exposição de 2006, foi lançado um livro, que teve o intuito de dar continuidade ao projeto de apresentar a cidade de Lages, valorizar seus pontos importantes e criar orgulho em seus cidadãos, bem como apresentar a cidade aos visitantes.

Nós, lageanos de nascimento ou não, que nos dedicamos a essa terra, estamos conscientes de que essa é uma região única no mundo. Essas formações que chamamos de coxilhas existem apenas nesse local.

As características especiais das regiões são facilmente destacadas e servem como grandes atrativos: as dunas dos desertos, os lençóis maranhenses, as pirâmides… Diversas são elas, e são poucas as regiões que possuem um atrativo natural ao turismo.

Esses atrativos se fazem tão importantes que em diversas cidades são criados com base na engenhosidade de arquitetos e engenheiros, fontes de atração ao turista.

Olhos nos olhos

Temos em nossa terra, em nossos campos, uma arquitetura forjada pelo grande arquiteto – a própria natureza.

No livro, foi incluída toda a exposição fotográfica Imagens da Coxilha Rica, apresentada em 2006, bem como as imagens que, por questão de espaço físico, não foi possível serem expostas.

Este texto, portanto, se apoia na missão do fotógrafo com relação à valorização de sua própria aldeia, diante de seu tempo e o seu espaço, que é onde escolhemos para viver, lugar que será registrado por nós para as futuras gerações. Se, de alguma forma, ele instigar novas atitudes e posturas aos leitores desta coluna, espero ficar sabendo um dia!

Até a próxima.

Foto: Divulgação

 

RICARDO BAMPI é natural de Porto Alegre (RS), mas atualmente reside em Lages (SC), onde atua como fotógrafo de books, casamentos e eventos em estilo fotojornalístico e também fotografias de moda. Procura estar presente nos momentos importantes que constroem a história social de sua cidade, pois acredita que somente com uma cidadania atuante se pode fazer alguma diferença no futuro.

 

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