Sony: A-mount ou E-mount, qual escolher?

A-mount versus E-mount: O assunto, sem dúvida é mais do que requentado e tido como ultrapassado, já que há matérias muito mais atuais a serem analisadas, mas surpreende que ainda provoque discussões, em certos grupos fotográficos, sobre qual o melhor deles, a ponto de provocar a edição de um livro sobre as mirrorless, que é um sucesso editorial.

Pessoalmente não vejo a questão dos sistemas de acoplamento de objetivas em termos de um ser melhor do que outro, como ainda hoje vem sendo discutido com o exagero de sempre, quase como um duelo entre o A-mount e o E-mount.

O A-mount, sem dúvida,  marcou seu espaço desde seu lançamento. Confiável, com alto rendimento e precisão em termos de contatos ele marcou presença entre os usuários Sony, e durante anos foi absoluto até a chegada do E-mount, criticado de início pela pouca opção de objetivas.

Na verdade, o que se tem, na maioria das vezes, é que os fabricantes (todos!) apresentam, com os novos modelos, séries compactas de objetivas, com os principais comprimentos focais, cuja quantidade, na maior parte das vezes cresce, graças às marcas independentes, que acrescentam opções a preços mais acessíveis buscando sempre alcançar novos nichos de mercado.

Com um desenho tradicional, as câmeras com o sistema A-mount ainda possuem uma boa penetração no mercado | Foto: Sony

E o que há de positivo nisso tudo é que A-mount e E-mount cumprem os seus papéis e com isso ambos granjearam a confiança dos consumidores, não só em termos de fixação da objetiva ao corpo da câmera, como na interação dos contatos eletrônicos para um funcionamento correto. E não é isso o que se pretende?

Muitas das objetivas encontradas no mercado são oferecidas por marcas independentes que buscam seguimentos na preferência do público | Foto: Gerk

A despeito disso, contudo, como o ser humano precisa eleger sempre alguma coisa como melhor do que outra, e cada um tem suas convicções, transcrevo a opinião de Lee Harvey que, se não põe um ponto final na questão, pelo menos traz a opinião de um cara que entende do riscado, como um dos mais renomados fotógrafos do National Geographic, publicada na revista Digital Photography, a respeito desta questão, em seu exemplar de novembro de 2017:

“Não se pode analisar os acoplamentos A e E-mount sem falar nos sistemas: a Sony, sem dúvida, disparou na frente das demais marcas quando insistiu em um caminho duvidoso e investiu nas mirrorless e seus sensores APS-C, sendo que na onda do sucesso, há três anos entregou ao mercado duas mirrorless full frame como a A99 e a A99.II, em A-mount, as quais apresentam refinamentos que as fazem únicas. Tenho duas!

E o E-mount? Bem, ele chegou como uma evolução natural, numa jogada de marketing que já estava na rampa de lançamento há um bom tempo e tinha que trazer alguma novidade para uma nova linha desenvolvida, na qual a Sony apostou todas as fichas, com as últimas conquistas da eletrônica e que, embora incorporasse uma série de melhorias, fosse algo simples e econômico porque o custo industrial é importante. Deveria ser algo novo em todos os aspectos!! Era a ordem do dia, mesmo que não fizesse tanta diferença assim.

As modificações efetuadas colocaram as câmeras E-mount em um outro nível”, muito embora melhorias tenham sido estendidas ao A-mount | Foto: Sony

E até hoje talvez muita gente não saiba a real diferença entre ambos os sistemas, que pode ser definida como uma simplificação mecânica, conforme o desenho, possibilitando ao E-mount corpos mais leves e objetivas mais compactas com a redução do flange [1]. Com isso ele perdeu seu espelho, como mostra a ilustração, o que tornou os corpos das novas câmeras da série “SEL” [2] mais finos e leves, enquanto o A-mount, mais volumoso, manteve  a sua grande vantagem, que sempre foi a qualidade do foco.

A Gerk abastece o mercado com lentes especiais, muito usadas em paisagens e vida selvagem, com ambos os montantes e são as preferidas dos profissionais
| Foto: Gerk

E mais uma vez a questão volta à baila: qual o melhor sistema, o A-mount, ou o E-mount? Isso é importante? Não acho, mas a verdade é que a tendência do ser humano é sempre comprar a câmera em função daquilo que ela alardeia como novidade e não daquilo que vai ser efetivamente usado pelo fotógrafo. Afinal são essas ofertas que determinarão a preferência do público graças às novidades oferecidas pelas novas objetivas embora ainda haja aqueles que se frustram com o número aparentemente reduzido de alguns acessórios no E-mount…

Ilustração: José Américo Mendes

1. montagem das lentes; 2. flange de fixação do espelho; 3. espelho translúcido; 4. sensor

Eu diria que a escolha depende do tipo de fotografia que você faz. Há fabricantes, como a Sony e a Fuji, que adotam ambos os montantes. As Sony das séries A6000/6300, A7/7RII e A9, por exemplo, adotam o E-mount, enquanto outros modelos da mesma linha, como o A68 e A99 adotam o A-mount, que segue no formato tradicional, mantendo o espelho.

Na verdade, há todo um trabalho de sedução, em função do marketing adotado pelas empresas. O E-mount ainda é considerado relativamente novo – está no período de quatro a oito anos previsto para cada modelo no mercado – e os fabricantes evitam inunda-lo com dúzias de opções. Primeiro pelo alto custo de lançamentos em série, sem que seja testada a aceitação definitiva do equipamento pelo público. Depois a jogada é manter o consumidor sempre ligado, à espera da próxima novidade. Por isso pode parecer que há relativamente poucas objetivas E-mount disponíveis, muito embora a Sony tenha lançado, juntamente com a Tamron, anéis de adaptação para o uso de objetivas de outros sistemas e outras marcas. Foi um meio de aplacar o mercado.

Já o A-mount, mais antigo, criado pela Minolta/Konica, depois absorvidas pela Sony, atende plenamente a todo o tipo de foto e possui um fã-clube vastíssimo. Não sei exatamente a quantidade, mas creio que o mercado receba os principais modelos, com duas ou três dezenas de tipos diferentes de objetivas de ambos os acoplamentos, fabricados não só pela Sony, mas por marcas independentes como a Sigma, a Tokina, a Tamron, a Vivitar e outras, em um mar de inúmeras opções. A Zeiss, numa política inteligente, abastece ambos os sistemas…

Eu tenho treze objetivas A-mount e é um número relativamente pequeno, se comparado com o que outros colegas possuem, sendo que algumas dessas objetivas produzidas ainda pela Minolta são hoje consideradas clássicas.

Isso talvez explique essa aparente diferença de quantidade de objetivas no mercado. Talvez até mesmo por alguns refinamentos que o E-mount ofereça e que o torna mais “seletivo” já que para muitos, são esses refinamentos que fazem a diferença, os quais, por sua vez, se refletem no preço mais salgado, obedecendo a velha lei da oferta e da procura.

O GPS, por exemplo, para mim, é perfeitamente dispensável, mas é algo muito importante para aqueles que não conseguem dormir sem saber “a quantos graus Norte e quantos minutos a Leste aquela foto foi batida”… 

Importante para uns e dispensável para outros, o GPS é ainda motivo de discussões | Foto: José Américo Mendes

Se eu fosse mais jovem e estivesse começando na fotografia, até por curiosidade, talvez sucumbisse à tentação das luzinhas que piscam [3] e comprasse uma A6300, ou uma A7, pelo que elas possam oferecer, mas não pelo tipo de acoplamento. E talvez comprasse algumas objetivas à proporção que chegassem ao mercado.

Só que há muito tempo estou em outro nível e fotografo tanto nas planícies poeirentas da África, quanto nas florestas úmidas de Bornéu, com câmeras e objetivas mirrorless, leves e curtas, que substituem perfeitamente os antigos canhões permitindo que eu trabalhe de modo muito mais confortável, com o mesmo rendimento. No final das contas é a qualidade da imagem e não o tipo de acoplamento que interessa, e isso o A-mount me dá.”

“O foco para mim é essencial e isso o A-Mount me dá” | Foto: Lee Harvey / National Geographic
Notas:
  1. Flange é o espaço existente entre a última lente  da objetiva  e o sensor da câmera. Essa distância é necessária no A-mount para manter o espelho na inclinação correta, capaz de cobrir toda a imagem recebida pelo sensor. Já no E-mount o flange é muito menor pela ausência do espelho, o que proporciona corpos mais finos e leves,  conforme mostra o desenho.
  2. As objetivas com montantes em “A” começam com a sigla “SAL”, enquanto aquelas que adotam a montagem em “E”, começam com “SEL”.
  3. A alusão às “luzinhas que piscam” é uma forma muito, comum entre os profissionais americanos, de criticar o excesso de tecnologia nos equipamentos fotográficos, que outros chamam de “perfumaria”.                      

Os últimos lançamentos na Photokina, a maior exposição de artigos fotográficos do mundo, marcas independentes como a Sigma e a Tamron apresentaram os últimos modelos de objetivas A-mount e E-mount, com uma série de refinamentos como estabilização em cinco eixos, retificação ótica, lentes mais claras, objetivas mais leves e duas versões: a A99 vem sem GPS, enquanto a A99II possui aquele acessório, e os dois sistemas foram expostos, em igualdade de condições, na mesma vitrine, ambos com full frame.

A Sigma, recentemente, por ocasião do lançamento de sua objetiva 150-600mm, apresentou uma série de acessórios, dos quais destacamos dois tele converters e dois adaptadores, para câmeras Sony, com qualquer um dos montantes.

Na minha opinião há espaço para as duas opções e a escolha é puramente pessoal já que a tecnologia está presente em ambos os sistemas, embora não veja muita vontade na Sony em manter os dois sistemas e já ganha corpo o  boato de que o A-mount esteja com os dias contados…

Para terminar, prestem atenção às notícias: já é esperada no mercado europeu a Sony A9R, com sensor de 75 megapixels, estabilização nos cinco eixos, vídeo 4K e velocidade de 30fps, no sistema E-mount, entre outras coisas. Dá para resistir?

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