O que os olhos veem, o coração sente

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Kahlua olha perplexa a fotógrafa que decidiu fotografar sua família, embora não entendesse tudo o que diziam

Há seis semanas eu decidi sonhar diferente: queria enfrentar velhos medos e descobrir novas vontades. E foi com um sorriso corajoso que peguei meu equipamento, respirei fundo (acredite, “beeem” fundo) e fui para o Canadá.

Não sabia o que ia encontrar lá, mas já sabia que era mais do que estava indo buscar.

Para alguns, eu disse que estava indo melhorar meu inglês – tá, essa foi só uma das desculpas. Para outros, disse que queria provar panquecas com maple syrup – bem, outra desculpa gostosa.

A verdade mesmo é que queria viver uma experiência que expandisse meu olhar, que o transformasse em uma lente aberta para um mundo a ser descoberto. Lembro que uma vez ouvi que o bom fotógrafo é aquele que primeiro fotografa com os olhos. Eu não só acredito, como jogo um pouco de açúcar: o bom fotógrafo é aquele que fotografa com os olhos e com a alma.

A cada dia que passava eu sabia que a minha fotografia estava em constante transformação. Sentia que as cores inspiravam uma nova paleta, que os movimentos dançavam em outro ritmo e que até o silêncio tinha algo a dizer.

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Zöe e Kahlua: desafio e descoberta

Foi quando surgiu a oportunidade de fotografar uma família canadense. E eu pensando: “Coragem, Vanessa, você vai precisar”. Parece exagero, mas imagine você em um país diferente, sozinha e sem dominar a língua. Repeti: “Coragem, Vanessa”.

Quando estava chegando à casa dessa família incrível, percebi que precisamos voar para longe da nossa zona de conforto para descobrir o novo – e que só ter coragem não basta.

Você precisa entender que a fotografia é uma eterna desconhecida. Nossa única certeza é a falta de certeza. O que acontecerá no próximo ensaio? Humm… quem sabe? A cada família, uma surpresa diferente.

Descobri que em todo canto há espaço para a felicidade. E que no mundo inteiro as pessoas estão em busca de um pouquinho dela. Fotografando com os olhos e permitindo novas imagens.

Mas como dirigir uma família sem conhecer completamente a língua?

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Bom, se dissesse que não senti algumas borboletas na barriga, estaria mentindo. Comunicar-me não foi tão fácil. As palavras sumiam e eu pensava: “E agora?”. Mas com o tempo fui percebendo que as palavras eram cada vez menos necessárias.

Respirei fundo (sim, como no dia em que decidi viajar) e descobri que precisava apenas me permitir. A luz natural era bem diferente daquilo que eu estava acostumada? Sim, mas não chegava a ser um problema técnico que diminuísse meu sonho.

Por isso, me permiti criar, brincar e, claro, errar. Pense assim: tem coisa mais gostosa na fotografia do que mudar o foco, viver uma nova luz e se redescobrir? É uma delícia saber que podemos fazer isso com locações, família e olhares diferentes.

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E mesmo sabendo que a Zoë, a menina linda de olhos verdes, seria mais um novo desafio na minha vida, eu lembrei o que a fotografia significava para mim: um jeito de me aproximar do mundo e das pessoas especiais que fazem dele um lugar tão diferente.

Foi assim que percebi que não estava sendo só mais uma menina corajosa. Mas, sim, que estava ressignificando meus próprios sonhos, com poesia e inspiração.

Sim, eu já voltei. E na minha mala trouxe mais do que lembranças de um país cheio de vida: trouxe coragem, paixão e uma vontade sorridente de fotografar meus próprios sonhos com os olhos.

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