Foto perfeita é a que não fica pensando nisso

Vanessa Atalla-1

Imagine esta cena aqui: eu e a Carol, minha cliente desde a barriguinha, conversando sobre os detalhes do seu próximo ensaio, quando ela diz: – Ah, Van! A Luiza adora morangos! Podemos levar alguns?

– Claro que sim!

Eu sabia que a combinação morango + criança + fotografia tinha tudo para dar uma foto bem divertida. O que eu ainda não sabia é que um coração apareceria na cena para deixar essa história ainda mais linda.

Usei esse exemplo rapidinho só para mostrar que nem sempre é preciso ter tanta certeza. Qualquer fotógrafo de família que queira contar histórias por meio das suas fotos deve deixar espaço para o improviso. E por improviso eu quero dizer: deixar o destino livre para acontecer.

Eu costumo seguir um roteiro diferente a cada ensaio, seja de família, gestante ou recém-nascido. E, claro, ter um roteiro na cabeça é muito bom, mas deixar o coração aberto para novas histórias é melhor ainda. É por isso que, quando estou indo para um ensaio, sempre faço o mesmo pedido:

“Nossa Senhora da Surpresa, me inspire com o inesperado. Amém”.

Inesperado. É essa palavrinha que vai te fazer contar uma história diferente a cada encontro. Meu conselho? Seja amiga dela, não tenha medo. Quando damos as mãos para o acaso, descobrimos um momento só nosso.

Vanessa Atalla-4

Durante um ensaio família, eu reparei (e como não reparar) num rapaz com uma coruja na mão, andando para lá e para cá dentro de um parque em São Paulo. Achei aquilo inusitado e pensei: “Humm… coruja + criança + fotografia combinam, hein? Ô se combinam!”. E lá fui eu:

– Com licença, moço. Será que você pode ir até ali onde estão aqueles dois meninos fofos e mostrar para eles essa coruja linda?

Imaginem a minha cara de felicidade quando ouvi o “sim”. Fico pensando que, se eu tivesse fechado os olhos para o que acontecia a minha volta, esse momento nunca teria acontecido.

E, como você já deve ter percebido, ser um pouquinho cara-de-pau é fundamental para quem está iniciando na fotografia de família. Não tenha vergonha, respire fundo. O “não” você já tem, concorda?

Em algumas fotos, a gente só se dá conta da beleza do inusitado depois. É como se ela acontecesse assim, de repente, sem buzina ou seta. Isso aconteceu comigo em um ensaio gestante. Fiquei na pontinha dos pés, mas – hunf! – ainda não era a composição que eu queria fazer. Fiquei de novo na pontinha dos pés (agora mais na pontinha ainda) e estiquei os braços bem esticados. Rezei para a Nossa Senhora do Foco e cliquei. Quando olhei a foto no visor, não conseguia enxergar outra coisa além da beleza de uma mãe abraçada pela bandeira do Brasil.

Vanessa Atalla-3

Fotos assim mostram que criatividade, técnica e destino podem, sim, andar juntinhos. Se tivesse uma fórmula para tudo, qual seria a graça?

Imagine uma cena em que um casal fez exatamente aquilo que você pediu. Mas um pouquinho antes de clicar, você sem querer falou alguma coisa engraçada. Aí eles deram risada. E você acabou não fotografando porque aquilo não estava no roteiro… e perdeu um momento espontaneamente feliz.

Vanessa Atalla-2

Antecipe o momento. Imagine na sua cabeça o que de mais diferente você gostaria que acontecesse naquela foto. Pense menos “será que dá certo?” e mais “vou fazer dar certo!”

E nunca (eu disse n-u-n-c-a) deixe de fotografar o papai quando ele estiver com um aspirador na mão 🙂

Vanessa Atalla-5

 

 

Artigos relacionados