Filme brasileiro premiado em Cannes foi gravado em negativo 16mm

O filme luso-brasileiro Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, de João Salaviza e Renée Nader Messora, fez sua estreia mundial durante a Seleção Oficial do Festival de Cannes 2018, que foi realizado neste mês de maio. Selecionado para a mostra Um Certo Olhar, que há sete anos não contava com uma produção brasileira, o filme  ganhou o Prêmio do Júri, na última sexta-feira (18).

Rodado ao longo de 9 meses na aldeia Pedra Branca, em Tocantins, sem equipe técnica e em filme 16mm, o longa conta a história de Ihjãc, um jovem indígena Krahô que, após um encontro com o espírito do seu falecido pai, se vê obrigado a realizar sua festa de fim de luto.

As filmagens foram precedidas por uma longa relação de Renée com o povo Krahô, que se iniciou em 2009. Desde então, a diretora trabalha com a comunidade, participando na mobilização do coletivo de cinegrafistas e fotógrafos indígenas Mentuwajê Guardiões da Cultura.

“Esperamos que, com a seleção do filme em Cannes, abram-se janelas e portas de comunicação onde as infinitas questões indígenas possam ser pensadas. Vivemos um momento terrível no Brasil e é urgente que o debate seja ampliado porque os direitos constitucionais dos povos indígenas vêm sistematicamente sendo ameaçados”, disseram os diretores do filme.

“Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” é produzido por Ricardo Alves Jr. e Thiago Macêdo Correia, da Entre Filmes (responsável pela produção do longa Elon não Acredita na Morte), em coprodução com a portuguesa Karõ Filmes e a Material Bruto, de São Paulo. Assista abaixo às entrevistas com os diretores do filme:

Protesto contra o genocídio indígena no Brasil

Durante o tapete vermelho de Cannes, os dois cineastas, assim como os protagonistas do filme, Ihjãc Krahô e Koto Krahô, e os produtores compareceram à exibição com roupas pretas e cartazes de protesto contra o “genocídio indígena” no Brasil.

“Pelo fim do genocídio indígena” e “Demarcação já”, afirmavam os cartazes em português, inglês e francês. O protesto responde à mobilização de líderes indígenas no Brasil, que acusam o governo brasileiro de negar-se a demarcar as terras indígenas e favorecer os empresários rurais.

Foto: Yann Coatsaliou/AFP
Foto: Loic Venance/AFP)

Filme 16mm

O filme 16mm foi introduzido pela Kodak em 1923 para o mercado de cinema amador. Porém, devido a sua qualidade e praticidade por um preço acessível, acabou sendo o formato mais utilizado por cineastas independentes na realização de documentários e filmes experimentais.

Com a popularização do vídeo na década de 1980, o interesse pelo formato diminuiu. Porém, ainda hoje, o 16mm é utilizado como uma alternativa de captação de boa qualidade, barata e ágil, com equipamento menos sofisticado que o digital. A resolução do filme 16mm é de cerca de 3K (3072 x 1620).

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